segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O pai que nasceu duas vezes

(a propósito da inauguração da Livraria e Papelaria 'PAIMAX - O Melhor Livro', na Rua do Mártir S.Sebastião)

Jamais a grandeza de um «ideal» se mediu pela sua grandeza mas pela que de ti nela entenderes investir. Porque «o homem é a medida de todas as coisas», como o grego afirmou há milénios e ninguém soube ainda desmentir.

Vergílio Ferreira

É a primeira casa do género que abre nesta histórica aldeia. Este facto, só por si, já é digno de nota, assumindo uma importância tal que, a meu ver, é merecedor de rasgados elogios.
Mas, o acto de inauguração assume, ainda, maior relevância, pelas circunstâncias muito especiais em que surge, em momento de crise económica e de valores como são aqueles que uma livraria pretende defender ligados á cultura.
Noutros tempos, inteiramente dedicada ao mundo rural, e, hoje, muito mais voltada para serviços e empreendimentos de cariz social e urbano, a nossa terra, com certeza que acolherá este novo rosto na área empresarial, com todo o carinho. Creio que será até motivo de orgulho.

E a denominação?

Nesta aldeia nasceram:
- António e Rosa, pais de Maximino;
- António e Custódia, pais de Clara;
- Maximino e Clara, pais de Afonso; e
- Afonso, pai da IDEIA;
Graças a ele, HOJE nasce PAIMAXimino! O pai que nasceu duas vezes.

Nascer, é vir ao mundo. Germinar, brotar.
Ele aí está com a sua experiência, peço que me perdoem a imodéstia para com aquele que foi tudo para mim, ele, aí está, como um protector e exemplo de vida a seguir.
Ele é mesmo 'O Melhor Livro' como diz o logótipo. Um livro que tem uma página, onde vem escrita a frase, carregada de sentido e sabedoria, que tantas vezes lhe ouvi: 'Mais vale um lápis curto do que uma memória comprida'.

Acho extraordinária e feliz a ideia de ter sido associada à denominação daLivraria a memória dum ente tão querido, facto que, estou certo, é uma boa forma de lhe prestar uma digna e merecida homenagem.

Estamos a falar de escrita e de livros, não é?
A tarefa da sua comercilaização não será fácil, é verdade, mas estou convicto de que os Elementos da Equipa, que abraçam o projecto, estão bem preparados para enfrentar quaisquer obstáculos que se lhes deparem no caminho.
Como um rio, quando nasce, é um fio de água, que, ao longo do seu percurso, aumenta o seu caudal, capaz de abastecer aldeias e cidades... Assim será com PAIMAX.
A todos os que vão trabalhar nesta casa, desejo felicidades.
Faço votos para que os futuros clientes e amigos sintam muito prazer em frequentar este belo espaço.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Inferno na estrada

Tarde de segunda feira. Regresso a casa, pela A25.

Toca o telemóvel que dá a primeira notícia: "Há um grave acidente na auto-estrada! Máximo cuidado".

O auto-rádio dispara em uníssono, em todas as estações, "choques em cadeia provocam cinco mortos e um grande número de feridos; camiões e veículos a arder... os bombeiros tentam apagar as chamas; inúmeras ambulâncias; há médicos do INEM no local; vítimas que sofreram queimaduras estão a ser conduzidas para hospitais com a especialidade de queimados...a chuva e o nevoeiro intenso que se faz sentir no local está a dificultar a prestação de socorro...os helicóteros ficam em terra, por causa das péssimas condições atmosféricas..."

É no quilómetro 45, nas Talhadas. Ainda faltam mais de vinte para lá chegarmos.

Nó do Carvoeiro, a GNR corta o trânsito, a fim de permitir a operação de socorro às vítimas, nas melhores condições.
Imposto o desvio pela EN nº 16.
Nos primeiros quilómetros do percurso, o tráfego flui normalmente, mas, pouco tempo depois, formou-se uma fila enorme, num constante pára-arranca. Há que séculos não entrava naquela estrada, que conhecia muito bem das normais viagens ao Porto. Pareceu-me igual. Tudo verde, uma fonte na berma, o rio à direita e a linha de combóio vale do vouga à esquerda, seguindo paralelamente, mesmo nas curvas e contra-curvas, como que fazendo uma mútua vigilância. Somos invadidos pela Natureza! Emociono-me, sem extravasar a alegria que sinto, uma vez que o rádio continua a lembrar-nos que, poucos quilómetros acima do vale, há vítimas mortais, que merecem o nosso respeito e recolhimento.
Chegamos ao fantástico Poço de S. Tiago, antigo porto fluvial com grande saída de lenhas, madeiras e carqueija. Ali está implantado o "elegante e arrojado viaduto de pedra, obra da engenharia francesa que transfere a via férrea para a margem esquerda do rio que ali corre entre ribanças apertadas e sai da alcantilada mas pitoresca e verdejante região dos gneisses e granitos. Sob o viaduto [com um arco central de 55 metros de vão] passa a mencionada estrada nacional" - in Guia de Portugal, 3º volume, Beira, I. Beira Litoral, 3ª edição da Fundação Calouste Gulbenkian.

Tanta beleza, a contrastar com a tragédia, ali tão próxima, cuja real dimensão nos era dada pela rádio, através de sucessivas noticías: "ainda não foi possível dominar o fogo no amontoado de veículos, um inferno!..."
Momento de paragem.
Medito. Mas porquê?
Penso nas pressas que hoje todo o mundo tem em chegar, alcançar ... ser civilizado. Auto-estradas para ... a morte. Que vida! Onde está a verdade da vida, a solidariedade, o tempo para a família?... Como é ainda posssível o sistemático flagelo dos incêndios que dizimam vidas e floresta, numa época que nunca mais acaba? Não está tudo ligado?
Penso no papel que deveremos ter para a evitar ou, pelo menos, atenuar futuras agressões, nesse campo. Vejamos esta coincidência. É preciso que aconteça um acidente, para que regressemos à velhinha estrada, com tanto de bom que nos pode dar!
Dá que pensar.
Nesse dia, chegámos a casa três horas mais tarde, mas demos graças a Deus, pela benção que nos concedeu.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Regresso

Regresso de férias, do tempo de lazer, leitura e diversão. A ilha de Maiorca - Platja de Muro, Alcúdia - foi o local de poiso e de ponto de partida para surpreendentes itinerários de veraneio.
Foi marcante o salutar convívio em família: dias inteiros de mútua troca de ideias e aventuras; viver a vida na sua plenitude (facto impossível durante o ano lectivo).
No campo turístico, se é que assim se pode chamar aquela parte das férias em que nos sentimos "obrigados a descobrir coisas novas", foi a descoberta do Mediterrâneo com areal imenso e água amena sempre a convidar-nos para um mergulho; a viagem de barco em pleno mar alto; a viagem de autocarro que atravessou a ilha e nos levou à capital onde deambulámos durante largas horas, visitando a Catedral e o Museu do Palácio de Almudaina; este último com vista para o mar e repleto de Pinturas e Tapeçarias que nos deixaram estarrecidos pela sua rara beleza.
Não pudemos visitar a lendária Chartreuse de Valldemosa, onde se albergaram Chopin e Sand em Dezembro de 1838 a viver um "amor sublime" e onde o compositor se entregou sem descanso aos seus prelúdios. Espero voltar para suprir esta omissão.

E destaco a leitura de "O silêncio" da Teolinda Gersão (Dom Quixote, 4ª edição, 1995) - bela poesia e descrição da natureza, ... mas difícil de compreender; iniciei "Todos os homens são mentirosos" de Alberto Manguel, [da Teorema], que continuo a ler com agrado. Parece um bom livro para fazer a ligação entre o período de férias e o trabalho. Nem de propósito, a obra tem como subtítulo "O que é a verdade?"
Neste período transitório, nada melhor do que a companhia de um livro, novo, que desperte a nossa curiosidade. Retomo o trabalho, literalmente, em busca da verdade.
É um rico estímulo para começar de novo!

Interessante!
Escrevo, escrevo...e devo parar. Este texto serve de teste ao permanente desafio que persigo: alimentar o blog, mas sem prejuízo do tempo dedicado ao cumprimento dos deveres inerentes ao 'outro lado' da vida, que é a real.
Acham que será tarefa fácil?!

sábado, 14 de agosto de 2010

A importância dos livros

P2.Quarta-feira 11Agosto 2010, página 2

coluna de Ricardo Aniceto, apresentando a obra:
Breve de Inocêncio XII
Roma, 1695, Novembro, 28
Pergaminho
397x238 mm
C Mosteiro de S. Vicente de Fora


A máxima "verba volant, scripta manent" (as palavras voam, os escritos permanecem) traduz a relevância do livro no ofício de ensinar da Igreja Católica, que, desde os tempos apostólicos, sempre demonstrou especial cuidado com os livros relacionados com a fé e os costumes.
Fruto da actividade das ordens religiosas (...)constituiu-se um património herdado do Norte ao Sul do país, ilhas, Brasil, Macau, em que se destacam as grandes livrarias dos mosteiros de Tibães, Alcobaça e Santa Cruz de Coimbra, mas também outras mais pequenas (...) como as do Convento da Graça e do Mosteiro de São Vicente de Fora, ambas em Lisboa.
O documento que se apresenta traduz a preocupação da hierarquia papal em zelar pela conservação das coleccções bibliográficas. Proveniente do cartório do Convento da Graça trata-se de um breve do Papa Incêncio XII ameaçando com penas os que desencaminharem livros da biblioteca do Colégio dos Eremitas de Santo Agostinho da Graça de Lisboa.

Nota: 'breve' significa "Documento pontifício que contém uma decisão ou declaração de carácter particular, que não se aplica á generalidade da Igreja Católica" - in Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências de lisboa.

Creio que a velha máxima também se aplica, com toda a propriedade, ao conteúdo dum blog. Os pensamentos e ideias nele manifestadas aí ficam registados para sempre.
Constitui uma marca indelével do seu autor. E transmite confiança ao seu leitor.