sexta-feira, 17 de junho de 2011

Festa

Sábado, a meio da tarde, levo o filhote à “festa de aniversário” do amigo, colega de classe.
Um percurso de quarenta quilómetros para a aldeia da Corredoura, lugar onde se situa a quinta, propriedade da família do aniversariante, em plena região de Lafões.
Chegamos. O palco da celebração está emoldurado por vegetação: muitos verdes, água e espaço para jogos ao ar livre... coisas cada vez mais raras. Diria até, uma preciosidade, já que, nos dias de hoje, a maior parte das festas, deste tipo, são efectuadas no interior de centros comerciais e quintinhas “temáticas” (nome pomposo para esconder misérias imaginativas; já nem falo daquela ideia de “encafuar” as crianças dentro duma sala de cinema), nada apropriadas aos fins a que se destinam .
Mal chegámos, o filhote, num ápice, desapareceu, no meio de inúmeras crianças, a coberto da Mãe Natureza, ali com tão ricas manifestações.
- Fique… muito gostaria… que participasse.
- Não, obrigado! A festa é para os filhos – e saí em direcção ao carro.
Atravesso a rua empedrada e, num relance, olho para o horizonte: lá longe, a serra e os povoados dispersos, um regalo para os olhos. Observo então, a poucas dezenas de metros, um apeadeiro.
- Afinal, ali tão perto, a extinta e saudosa linha do Vale do Vouga!
De imediato a memória me fez recuar no tempo…, levou-me algures, até ás entranhas daqueles montes e vales, onde passara as férias da minha infância. O meio de transporte era o comboio. Os passageiros eram largados no apeadeiro, que, a partir dali, tinham que calcorrear dois quilómetros para chegar ao destino - a “casa do capitão” , na quinta do Faleiro. Um lugar próximo do rio, bucólico, paradisíaco.
Incrível, a memória: vejo à minha frente o menino do Faleiro que acorda com o chilreio dos pássaros. Levanta-se, reza a oração matinal, corre em direcção ao rio, mergulha na água fria e joga com os colegas à “bola dos quadrados”.
Incrível, como me acompanha pela ponte do tempo!
No final da tarde, apresento-o aos convivas.
Ninguém o reconhece.
Mas, a ponte do tempo conta agora com, pelo menos, mais um transeunte.
Coisa simples que liga a vida!

8 comentários:

  1. São tão boas estas recordações de infãncia, ficaram imagens que por vezes parecem ainda reais...
    Bjs

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  2. somos nós que crescemos e o outro que ainda é pequeno

    nas quintas e nos montes
    nas linhas dos combóios que continuarão sempre a apitar!

    um abraço

    manuela

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  3. Acordar com o chilreio dos pássaros... muito, muito bom!
    Eu gosto de acordar assim :)

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  4. Tens razão...cada vez mais as nossas crianças estão afastadas dos hábitos de vida saudável...faltam pássaros, falta água, faltam corridas ao ar livre,falta alegria,falta imaginação...entre quatro paredes quem a tem?!

    "Recordar é viver"

    Boa semana

    Beijo

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  5. Petrus,
    adorei! viajei nas tuas palavras, que belos sítios e memórias descreves!

    Beijinhos grandes

    p.s. muito belo texto!

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  6. Segue o comentário que, por dificuldades do blogger, não pôde ser publicado pela autora, amiga Cata-vento:

    "Não posso estar mais de acordo com os pontos que aqui são levantados. As festas infantis, as do tipo que aqui são referidas, tornaram-se uma raridade.As crianças vêem-se, cada vez mais, confinadas a espaços fechados, por vezes em centros comerciais, outras no cinema e também nesses parques temáticos que refere,muitos deles de gosto muito duvidoso, pedagogicamente paupérrimos, que não lhes permitem as salutares correrias do apanha, do esconde, do jogo do berlinde na terra...coisas aparentemente banais que tão salutares são. Felizmente o seu filho ainda tem amigos cujos pais lhes proporcionam estes momentos tão saudáveis em todos os aspectos no que ao desenvolvimento humano, e sobretudo infantil, concerne.
    Outro aspecto,neste caso um meio de transporte, em vias de extinção, o comboio, que tão importante foi, está "fora de moda", ele que tão útil foi nos dois séculos anteriores.Que pena, ver certas estações ao abandono! Há que revitalizá-las com imaginação.
    O outro aspecto, último, a desertificação dos campos, o isolamento das aldeias rurais, os montes e vales , onde agora vivo também, vêem partir os seus habitantes. Crescem os matagais, prejudica-se a agricultura. Faz falta um novo olhar, inteligente, sobre estas paisagens. Quanto ao Faleiro que, graças a si, foi apresentado aos seus amigos talvez restabeleça a ponte para esses espaços paradisíacos. Assim o espero e assim o desejo.
    Bem-haja, pelo texto magnífico!
    Um abraço fraterno"

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  7. Excelente o texto. Também a falar do vale de Lafões, só podia ser um texto inspirado. Sou uma apaixonada por aquela zona.
    Um abraço e bom fim de semana.

    Nota: Cheguei aqui através do Cata Vento da nossa amiga Isamar que comentou que não consegue comentar o seu blog. Tem alguma ideia do porquê dessa situação?

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  8. Elvira,
    Visitei os seus espaços, de que gostei muito, mas não consigo aceder à caixa de comentários.
    Não sei como resolver o problema.
    de qualquer modo, deixo ficar aqui esta breve impressão.
    Gostei muito de saber desta sua ligação à região de Lafões.
    Desde a minha infância que tenho mantido contactos com ela. E quero continuar, porque é realmente muito bela e tem boa gente!

    Bom fim de semana
    Abraço amistoso

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