sexta-feira, 13 de junho de 2014

aguarelas de rua


Tenho um fascínio por aguarelas.

Adquiri algumas ao longo do tempo.

Julgava que a aguarela seria um parente pobre da pintura a óleo, até que um dia o meu sogro me confidenciou que a pintura de aguarela era muito exigente.
Dizia ele com a segurança de quem percebe do assunto:
“A aguarela tem que ser executada logo à primeira mão, não admite emendas ou retoques como acontece, por exemplo, com a pintura a óleo.” .

A partir de então comecei a olhar com mais respeito para aquela espécie, se bem que continuo a achar que a pintura a óleo pertence a uma categoria superior das Belas Artes. E creio que é por essa razão que um quadro a óleo de artista consagrado atinge preços de mercado exorbitantes, inacessíveis ao bolso do comum dos mortais, como é o meu caso.

Fico-me pelas aguarelas. E mesmo assim já tive que dispender algumas quantias muito significativas, que nos dias de hoje a bolsa não o permitiria. São loucuras que, a partir d’agora, com os cortes nos vencimentos, tendencialmente vão acabar!

Tenho pena, porque custa sempre abandonar uma prática que nos dá prazer.

Para mim, a aguarela tem um significado muito mais profundo do que o simples valor monetário correspondente ao preço de custo.

As minhas estão intimamente ligadas aos lugares onde foram adquiridas.

Madrid Córdoba Roma Florença Amsterdão são cidades que passam cotidiamente diante dos meus olhos, graças ás aguarelas que ornamentam as paredes de casa.

Duas há, todavia, que suplantam todas as outras: de pequena dimensão, muito semelhantes, da autoria do mesmo artista. O próprio, oriundo de um país balcânico recentemente emancipado, se encarregou de as vender em plena rua de Londres. Autografou-as com carinho e formulou votos de felicidades.

Um gesto de enorme contentamento e com uma ponta de vaidade.

Julgava eu que  as aguarelas da rua seriam apenas mais duas para a colecção, mas, afinal, cheguei à conclusão de que têm a marca do coração.

5 comentários:

  1. A aguarela, como a pintura acrílica podem ser realmente as parentes pobres da pintura a óleo. Mas o seu sogro tem razão. uma pintura a óleo pode ser retocada, até semanas depois de prontas, a aguarela, e a pintura acrílica não. Então em dias de temperaturas altas estão a acabar os traços e já estão secas.
    Para mim que não sou artista, é no entanto mais fácil a aguarela ou a acrílica. Desde logo porque os materiais são muito mais baratos. Se não sair como quero o estrago é muito menor.
    Muito bonito o seu post.
    Um abraço e bom fim de semana

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  2. começa na palavra, água ou aqua, é bonita
    e a técnica é das mais difíceis

    eu que rabisco apenas, sou um desastre a aquarelar

    um abraço

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  3. Petrus, o teu sogro tem razão, pesar da aguarela ser uma parente mais pobre que o óleo ou mesmo que o acrílico ...exige muita destreza manual, rapidez e domínio da técnica... na minha opinião o guache é mais pobre ou tão simples quanto a aguarela mas muito mais fácil de pintar....idêntico ao acrílico, o óleo é brilhante mas não é para todos... sou da área e confesso que a lavagem dos pincéis e o odor que exala da pintura a óleo quando ainda se encontra em fase acção , ou antes de secar , é uma chatice ...são produtos muito fortes e tóxicos. Existem aguarelas lindíssimas, autênticas obras de arte. Orgulha-te delas!!! e têm histórias a contar, eu honestamente não lido bem com a aguarela....sou lenta... no entanto, aprecio quem sabe dominar! O teu texto está encantador, uma crónica muito agradável de se ler.

    Um beijo

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  4. A arte vale para nós que a admiramos e para o artista que a cria. A técnica deve estar ao serviço da mensagem; ela não é a mensagem e há mensagens que só a aguarela as pode transmitir. Se são a preço acessível, tanto melhor.
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    Percorri as divisões da sua casa, que é como quem diz, entrei nos seus blogues para os conhecer. Gostei e fico-lhe grata pelo convite.
    Cumprimentos

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