segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Água que corre

O título é de MANUEL ANTÓNIO PINA, em magnífica crónica publicada no JN*, que ainda hoje mantém actualidade.
Dizia o poeta:
"Realiza-se em Serralves, dirigido a profissionais das indústrias criativas, o que quer que isso seja, um ciclo de conferências  sobre a propriedade industrial e intelectual. A propriedade constitui um interminável problema filosófico, e a noção de "propriedade intelectual" mais ainda, principalmente hoje, com a desmaterialização e multiplicação dos usos e das técnicas de comunicação e reproduz ção. No admirável "Perre Ménard, autor do Quixote", Borges coloca, não sem radical ironia, a questão da autoria. No limite, cada leitor (ouvinte, espectador) é um autor e cada leitura uma autoria. Ainda no limite, poderíamos mesmo perguntar de "quem" são as nossas palavras ou o modo como as usamos ou se ligam umas às outras, as nossas ideias, a própria ideia que temos de criação e concluir, com Prroudhon, que a propriedade, em especial, a intelectual é necessariamente um roubo e o autor um ladrão que rouba a outros ladrões. A autoria (contra mim falo, que sou autor) tem hoje inexplicável prestígio e a sua patética luta para impor barreiras jurídicas à comunitarização da criação é tentar agarrar água que corre."


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* Na coluna habitual POR OUTRAS PALAVRAS, de 11 de Novembro de 2009

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