Era o que fazia naquela Quinta-feira, 1 de Julho de 2021: abro na página “NA MÃO DE DEUS” e deparo com a notícia:
“Faleceu, em Moselos, António Ferreira Fernandes, com 66 anos de idade, casado com Maria Fernanda Ferreira Rodrigues. Era pai de António Pedro Rodrigues Fernandes e de Mariline Rodrigues Fernandes.Fixo o olhar na foto ao lado. Não queria acreditar: aquele sorriso, único e inconfundível, só poderia o do meu primo - o António ("Pica" de alcunha). mas como, se ninguém me disse nada?!, tão novo! Cerrei as pálpebras e, em plena escuridão, pensei nele: percorri a sua figura tal como era nos velhos tempos.
A primeira grande memória que tenho dele remonta à adolescência.
Naquela época eu tinha acabado de sair do seminário, e estava a aprender a viver sem a protecção da instituição que me abrigara durante cinco anos e meio. Foi muito importante um amigo como o António (assim o tratava, porque percebi o incómodo que a alcunha lhe causava)! Ajudou-me na lenta integração no meio dos rapazes. Vêm-me à memória os jogos de futebol, os bailes, a ida à cidade a fim de tomar café (um luxo!), as festas do povo (a religiosa em honra da padroeira Senhora da Vitória e a do arraial), a música ouvida em grupo à volta do gira-discos trazido pelo pai, emigrado em França: era o tempo do vinil e dos famosos cançonetistas, Adamo, Polnareff, Brel e outros, então, muito admirados no nosso país.
Lembro acima de tudo o amigo, divertido, dialogante! Mas ele era muito mais do que isso! Viria a casar com a prima Fernanda, filha do saudoso tio Zé Rêga. Na altura eu estudava na capital, só vinha a casa nas férias, o que dificultava a presença nas festas familiares, mas ao seu casamento nunca podia ter faltado.
Viviam-se tempos difíceis, em especial devido ao grave desemprego que grassava entre os jovens; por isso viu-se obrigado a emigrar, tal como acontecera com os pais. Foi assim que conquistou a independência económica; havia pouco tempo que regressara de vez. Num recente encontro, de fugida e em público, percebi que vivia feliz no seio da família.
Amaldiçoo a notícia que me deixa transtornado. Mas, de repente caio em mim, e ouço, bem lá no fundo, a voz da verdade muito clara: "a vida é frágil, uma simples passagem pelo mundo!"
Razão tinha o poeta que, num belo rasgo de imaginação "a vida é uma viagem de comboio onde todos seguimos; de estação em estação o trem larga o passageiro que vê chegada a hora do seu destino final. Implacável, foi a última estação para o António.
Desceu o belo rapaz, e nós continuamos a viagem, com a leveza do sorriso que ele legou.
Relato emocionado e comovente.
ResponderEliminarFrágil, muito frágil é esta vida.
Um abraço