terça-feira, 8 de junho de 2010

Música para os manter na escola

Reportagem, Notícias Magazine, 18 Abril 2010
Num bairro da Amadora marcado pela exclusão social, onde os adultos vivem no desemprego e os que trabalham recebem pouco, onde os alunos deixam cedo a escola para, muitas vezes, a trocarem pela rua, algumas dezenas de crianças aprendem música clássica e mostram que o futuro pode ser melhor.
Já tocaram para grandes audiências em importantes salas de espectáculos do país e lá fora.
Um dia, farão parte do que será uma Orquestra Nacional Geração.

Texto: Carla Amaro; Fotografia: Paulo Alexandrino

A escola é a Miguel Torga (Agrupamento de escolas Miguel Torga) na Amadora, mas podia ser o Conservatório Nacional, pelo que se ouve, pelo que se vê. É que aqui, os miúdos que integram o projecto Orquestra Geração, uns da orquestra A, mais avançada, de que faz parte o Telmo, outros da B, a de Iara e de Leonardo, andam com um violoncelo ou uma tuba, ou uma flauta ou outro instrumento com a mesma naturalidade com que trazem livros e cadernos.
Estas crianças do Casal da Boba reproduzem a criação dos compositores clássicos tão bem como outras que aprendem nas melhores escolas de música.
O maestro Juan Carlos Maggiorani - ele próprio um "produto" deste projecto - não questiona que o coração delas é bom e grande. De outra maneira, como poderiam arranjar um lugar na sua vida para a música, deixar a música tomar-lhes conta da alma? Porque é isso que a música faz a quem a toca e a quem a ouve: invade, arrepia. Como esta que ensaiam agora, uma das cinco Marchas de Pompa e Circunstância, compostas para orquestra por Edwuard Elgar.
(...) Ana Espanha, «violoncelista» porque «o violoncelo é o instrumento mais parecido com a voz humana» não dissimula o entusiasmo: «Eu nem queria acreditar quando me vi à frente da rainha Rania. Estava um pouco nervosa, mas correu bem. Acho que estivémos à altura». A rainha viera a Portugal em Março do ano passado, a fim de receber o Prémio Norte-Sul, pelo seu trabalho de promoção dos Direitos Humanos, e deslocou-se de propósito a esta escola para conhecer e ouvir os pequenos músicos da orquestra Geração.
O objectivo da implementação do projecto venezuelano no nosso país é nobre pela carga social inerente, mas quem o está a orientar tem uma ambição maior: criar a primeira orquestra local juvenil - a Orquestra Sinfónica Juvenil Geração.
(...)Ideia conjunta da Câmara Municipal da Amadora, da Fundação Calouste Gulbenkian e da Escola de música do Conservatório Nacional.
O Professor António Wagner Diniz, do Conservatório Nacional, esclarece que a ideia não é formar músicos profissionais, não se trata de um projecto musical. É um projecto que utiliza a música como uma ferramenta para fixar as crianças na escola e, desse modo, combater o abandono escolar.

A Professora Helena Lima, coordenadora pedagógico-executiva do projecto diz que já é possível aferir que «entre os trinta alunos do primeiro ciclo que frequentam a Associação Cabo-Verde, também na Amadora e onde já existe uma orquestra infantil, «não houve retenções e os professores assinalam mudanças significativas no comportamento da sala de aula». Na Miguel Torga «tem vindo a registar-se uma evolução positiva de comportamento na escola e na orquestra».

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