segunda-feira, 9 de maio de 2011

Cegonhas guerreiras

O espectáculo impressiona: cegonhas e mais cegonhas, na auto-estrada! Umas, em pleno voo, outras nos seus ninhos, implantados no cimo dos pórticos da sinalização e dos postes de energia de alta tensão na margem da via.
E ali vivem, impávidas e serenas, completamente alheias ao intenso tráfico rodoviário.
Delas me apercebi, há cerca de dois anos. Um regalo, todos os dias, de manhã, em deslocação para o trabalho e, no final do dia , de regresso a casa.
No início do primeiro Inverno, esperava que, pela natureza migratória, partissem em direcção ás terras quentes, do Norte de África, fugindo dos invernos rigorosos da região.
Mas, não!
Entrámos na estação fria, e, apesar das intempéries, vendavais... elas ali permaneciam, seguras, belas, perseverantes e sem sinais de fraqueza.
Surpreendentemente, passaram ali todo o Inverno.
Chega a Primavera.
- Bem,
pensei,
talvez a actual crise climática tivesse confundido o instinto dos animais, de tal modo que já não distinguiam as estações do ano!
ou a suavidade dos invernos tornou desnecessária a migração das aves?!
O certo é que, no inverno seguinte, lá continuavam elas, firmes no seu local adoptado para viver ininterruptamente.
Eis senão quando, determinada manhã, gélida e cinzenta, desapareceram os ninhos e os seus habitantes! Uma razia, sem deixar rasto.
Teria sido o vendaval que os derrubara?! Talvez. Por que não, se eles são, aparentemente, tão frágeis?
Achei estranho, mas, aceitei a dura realidade: um desastre!
Como seria agora, no futuro, ver-me privado daquela pequena maravilha que diariamente me era oferecida pela natureza?
Mas... no dia seguinte, surpreendentemente, verifiquei que, à margem da via, se erguiam cinco postes coroados, artificialmente, com ninhos semelhantes aos naturais. Como é que eu nunca me tinha apercebido da sua existência? Só poderiam ter sido ali colocados, naquela altura!

Curioso, olhei atentamente para os pórticos, e constatei que exibiam, a todo o comprimento, arame farpado.
- Querem tirá-las dos pórticos, e deslocalizá-las para a margem da via.
E era.
Apenas duas ou três cegonhas sobrevoavam os céus. A maior parte desapareceu misteriosamente.
Pobre auto-estrada.
Os dias foram passando, até que, paulatinamente, começaram a aparecer de novo, pousando nos pórticos, ainda despidos das belas obras de arte.
Transportam nos seus fortes bicos fragmentos de ramos secos e outras substâncias que depositam engenhosamente nas traves e painéis de sinalização. Ramo sobre ramo, constroem de novo seus ninhos, ludibriando completamente os intentos do homem.
Regressou a vida àquele local.
Em plena primavera, os ninhos enchem-se de filhotes que espreitam para este mundo acelerado dos automóveis e da poluição.
Vitória! - gritam
Segundo lenda popular, é por meio dessas aves que os bébés chegam aos pais.
Na infância, contaram-me que tinha vindo de Paris no bico duma cegonha!

Quem é que, agora, não acredita?

domingo, 1 de maio de 2011

Mãe

A minha mãe

O pai partira para a sua última Viagem.
Tanta dúvida: como seria a vida, na sua ausência? Como seria a Natureza, que passei a ver diminuída, mutilada, privada do seu melhor membro?
Sem nunca ter obtido resposta, achava que era feliz por ter a mãe na minha companhia!
Mas eis senão quando, menos de 365 dias depois, também ela é chamada.
30 de Março de 2009, foi o dia.

O dia em que, surpreendentemente, nunca me senti tão próximo de minha mãe.
O dia em que, finalmente, percebi o quanto ela me amava.
O dia em que percebi, também, o quanto amava os seus entes mais queridos, todos!
Uma grande lição de vida! que nunca mais esquecerei.
Mãe é única.

É árvore que cresce, floresce, dá fruto e renasce com a Primavera, ano após ano. Por isso achamos que é eterna.
Mas, paradoxalmente, partiu!
Julgava que tudo se tinha acabado!
Mas, não. Puro engano.
Hoje está mais presente do que nunca!

Acreditem que é mesmo assim!
Ainda há pouco meus filhos ofereceram à mãe um belo ramo de flores.
De rosas vermelhas - a cor de que ela mais gostava.
Logo hoje, em plena Primavera!
Eu não dizia?!
Lá está.
A mãe sempre presente!