quinta-feira, 2 de setembro de 2021

As árvores das ruas são para dar sombra e despoluir o meio urbano

(...) A quantidade de oxigénio (O2) necessária para a vivência saudável de um indivíduo da espécie humana num espaço urbano é correspondente ao oxigénio produzido por uma superfície foliar de 150 metros quadrados. Feitos os cálculos, verifica-se que cada indivíduo necessita, teoricamente, de 40 metros quadrados de espaço verde num ambiente urbano. Desta área, corresponderão, para cada habitante, dez metros quadrados de espaço localizado próximo da respectiva habitação, até um raio de acessibilidade de 400 metros, sendo os restantes 30 metros quadrados por habitante destinados ao espaço verde integrado na estrutura verde principal do agregado populacional. Não me parece que haja qualquer cidade portuguesa nestas condições, embora o Funchal seja, quanto a mim, a cidade portuguesa que mais se aproxima do espaço verde ideal num ambiente urbano e Viseu a cidade portuguesa com maior área relativa de artérias urbanas arborizadas. Actualmente, já existem amplos parques verdes urbanos em Portugal, como, por exemplo, o de Chaves, o da Boavista no Porto, o Parque do Fontelo em Viseu, o Choupal em Coimbra, o Parque Florestal de Monsanto, em Lisboa, o Parque Urbano do Seixal e o Parque da Paz em Almada, o melhor deles todos, na minha opinião. Em vez de se diminuir a verdura nos agregados urbanos e arredores, ela tem de ser aumentada, de modo harmonioso e artístico, para que as cidades, vilas e aldeias sejam saudáveis. - citação do artigo publicado no jornal PÚBLICO, Domingo 11 de Abril de 2021, Jorge Paiva, Biólogo

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Último apeadeiro

A notícia veio no último jornal local (1Jul2021), sob o título “na mão de Deus”:

“Faleceu, no Oiteirinho, Manuel Ferro Portugal, com 66 anos de idade, casado com Maria Antonieta Mendes. Era pai de Adriano  e de Celina Portugal.”

Assim que li o nome da minha terra natal, os olhos foram direitos à foto inserida no texto. De imediato assaltou-me a ideia de que poderia ser ele. Não queria acreditar… quem sabe? o jornal poderia ter sido induzido em erro! por vezes as fontes enganam-se! Mas o sorriso era único e inconfundível! Só poderia ser ele! o “Ferrinhos ” (alcunha que herdou do pai).

Conheci-o na adolescência… um amigo fiel e leal desde a primeira hora.

Naquela época, eu, que tinha acabado de sair do Seminário, iniciava a aprendizagem duma nova vida; dava os primeiros passos em liberdade, sem a protecção da instituição que me abrigara até ao segundo período do sexto ano lectivo; foi muito importante ter um amigo como ele !

Vêm-me à memória os bailes, as idas à cidade tomar café (na aldeia ainda não havia este “pequeno luxo”), a festa do povo, os discos da música ligeira francesa (Adamo, Michel Polnareff, etc.) trazidos de Paris pelo pai.

Desde então, os encontros foram esporádicos, contudo o vínculo afectivo manteve-se sempre  intacto.

Vivia tranquilo e convicto de que a vida dos amigos é eterna.

Até que surgiu a notícia. Que tristeza, a perda do Manuel Portugal (era assim que eu o tratava, porque percebi que ele não gostava da alcunha!).

Viria a casar com a prima Hernanda.

Viviam-se tempos difíceis, falta de oferta de trabalho. Por isso, e à semelhança da maioria dos jovens naquela época, o Manuel emigrou para o centro da Europa, seguindo as pisadas do pai. Ao fim de algumas décadas regressou definitivamente à aldeia que o viu nascer! E lá se manteve o resto da vida.

Como foi possível a sua partida? Tão novo! Custa acreditar que chegou a sua hora! mas… é a verdade da vida! o reconhecimento de que é uma simples passagem!

Lembrei-me do Poeta: “todos somos passageiros num comboio de alta velocidade…

O Manuel saiu no último apeadeiro; imagino, a sorrir!

Nós prosseguimos viagem contagiados pelo inesquecível sorriso ... dia após dia, hora após hora, minuto após minuto! até ao momento em que o Maquinista tire à sorte para decidir a quem caberá a saída no próximo apeadeiro! 
 

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Bioterra: Arvoredo Público

Partilho o texto, belo e educativo, retirado do blog Bioterra com autorização de seu titular João Soares:
Arvoredo Público 
Por: Pedro Bingre do Amaral 

"Talvez por erro meu de perspectiva, talvez por azar, talvez por o meu gosto pelas árvores me tornar demasiado susceptível aos danos que se lhes causa, talvez por o meu ofício enviesar a minha percepção delas, sinto um grande abalo ao vê-las serem abatidas ou mutiladas sem razão atendível. Compreendo sem rebuço o corte raso de plantações destinadas à produção de madeira, quando as plantas atingem a maturidade e o volume lenhoso era o pretendido. A sociedade precisa de madeira, de papel e de lenha. Entendo a necessidade de se podarem árvores de fruto, com método cientificamente comprovado, de modo a aumentar a quantidade e a qualidade da colheita. Idem para certas árvores em exploração silvícola, quando se pretende minimizar o número de nós na madeira ou aprumar o fuste. Percebo a inevitabilidade de se talharem alguns ramos ou pernadas quando se der o caso estarem doentes, atacados por uma praga, ou mortos e em risco de queda, seja em árvores agrícolas, silvícolas ou ornamentais. Reconheço a vantagem de se fazerem algumas intervenções quase cirúrgicas, discretas e cuidadosas, nas árvores ornamentais de modo a melhorar a sua estética e os ângulos de visão ao seu redor. Dou como certa a conveniência de desbastar e desramar certas matas, de modo a reduzir o perigo e o risco de incêndio. Infelizmente, vejo o contrário disto acontecer um pouco por todo o país: deparo-me com incontáveis abates e mutilações (não encontro melhor termo) de árvores em espaço público, sem que se vislumbre qualquer justificação técnica, económica ou estética. Nas nossas ruas, praças e parques, inúmeras autarquias abatem as árvores de alinhamento ao mínimo pretexto, sem nunca cuidarem de replantar novos exemplares. As que restam de pé são anualmente estropiadas por alegadamente necessitarem de ser podadas, mesmo sendo evidente que nem essa operação é necessária, nem o resultado é outro senão o desperdício de dinheiros públicos e a vandalização de património público. Porque de património público se trata. Uma árvore de arruamento é um bem pertencente à Administração Pública. Observar funcionários públicos mutilarem ou abaterem árvores públicas sem justificação é tão perturbador quanto seria vê-los a usar o dinheiro dos contribuintes para destruir património desses mesmos contribuintes. Tenho visto árvores públicas, algumas delas centenárias, serem abatidas por "as suas raízes levantarem a calçada" (como se não fosse mais sensato alargar a caldeira e subir o pavimento). Outras são abatidas por "largarem folhas sobre os telhados"; ainda outras por "lançarem sombra". E sob estes pretextos absurdos vão sendo perdidas árvores plantadas pelas gerações dos nossos avós e bisavós, quando ainda não havia uma Lei de Bases do Ambiente mas em contrapartida o senso comum sabia dar valor ao arvoredo urbano. Pouco a pouco, naqueles municípios onde os autarcas negligenciam o arvoredo público o usufruto de um espaço arborizado se vai tornando privilégio possível apenas em prédios privados. Chegará o dia em que quem quiser sentar-se à sombra de uma árvore na cidade terá de plantar uma na varanda, como se pode apreciar neste edifício milanês