quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Lenta evolução

Na aldeia da minha infância, uma década antes do 25 de abril, pude constatar que uma parte da população sofria de enormes carências  económicas, que impediam o acesso a boas condições de vida em geral, e, muito em especial, aos serviços de saúde. Portugal era, então, um país pouco evoluído, e, em relação à cultura, ficava muito aquém da média europeia (dizia-se na altura que Portugal tinha um atraso de 20 anos em relação a França!).

Decorridos 48 anos, "as coisas" estão melhor, mas... ainda há «bolsas» de pobreza na população que impedem o acesso ao mínimo exigível para a sobrevivência de um ser humano. 

E na saúde continuamos com atraso! A pandemia da covid-19 encarregou-se de nos mostrar  as dificuldades ainda existentes em determinadas franjas da população (que sobreviveram graças à caridade de instituições de solidariedade social e de voluntários ou grupos de formação espontânea que surgiram um pouco por todo o país). E no que toca à vacinação, e muito em especial à aquisição de vacinas, valeu-nos a UE (que tomou medidas abrangentes, a fim de impedir que os países mais frágeis, como o nosso, tivessem sido ultrapassados na corrida desenfreada para compra de vacinas  junto dos laboratórios produtores).

Igualmente, neste verão, o estado a que chegaram as urgências de obstretícia indiciou a existência de graves problemas na saúde (inclusivé a morte de pelo menos um bébé e uma grávida, por falhas nos serviços de urgência).

Entretanto, o Governo anunciou um combate à crise na saúde, através de uma reforma legislativa que, infelizmente, ainda se mantém no papel [há dois dias foi conhecido um nome para o lugar de CEO do SNS, o qual é apresentado como um "salvador" da saúde! (lá continuamos nós dependentes de um D. Sebastião, que, como eterno desejado, deverá aparecer numa manhã de nevoeiro..., até quando?]. No dia de hoje ainda não se sabe se o referido milagreiro vai aceitar o cargo!?

A realidade é que o SNS está muito debilitado, situação que impede que o país dê passos seguros no rumo certo! Tenho para mim que o nível de desenvolvimento de um país se mede pelo estado da sua saúde pública. Ora, convenhamos que neste capítulo, não estamos bem (recentemente fomos  ultrapassados por países anteriormente escalados em níveis inferiores, como é o caso dalguns paises de leste (emancipados da ex-URSS: v.g. a Lituânia). Isto coloca-nos num nível cada vez mais próximo da cauda da europa.

É certo que a saúde tem mostrado alguma evolução, todavia, parece que, em determinados sectores (v,g. as urgências),  não há maneira de afastar velhos fantasmas impeditivos dum claro arranque para um futuro melhor.

E isto é preocupante: um serviço público deficitário, quer no campo dos recursos humanos, quer no campo das instalações e condições de trabalho! 

Mais preocupante ainda é o facto de sabermos que, enquanto  o serviço público vai marcando passo e/ou definhando, paralelamente, os privados (hospitais e seguros ligados á saúde) florescem cada vez mais. Isto é dito, e reiterado, por alguns profissionais da saúde, cronistas e fazedores de opinião na imprensa escrita e nas redes sociais, e até por alguns membros do partido que sustenta o Governo. Que paradoxo?!

Que país é este que não sabe cuidar bem dos seus? Uma tristeza!