“ Tem sido um começo de ano difícil. Há ansiedade no ar, nos gabinetes
e corredores das instituições europeias. Pouco mais se tem feito, para além da
gestão da rotina. Não deixar a máquina emperrar parece ser a única preocupação.
Mas faltam o entusiasmo, a determinação e a coragem. Ninguém quer fazer ondas.
Tudo isto reflecte a desorientação em que a Europa se encontra.
(…) Já não se fala de convergências políticas, de ambições
supranacionais, nem da «casa europeia». É tudo muito mais terra-a-terra.
Enveredar por esta opção, como agora está a acontecer, faz cair Bruxelas das
nuvens e os eurocratas do pedestal onde muitos anos de retórica grandiloquente
os haviam colocado.
“A reorientação a que se assiste traz consigo um retorno a uma Europa
com um motor a dois cavalos: a França e a Alemanha. Um regresso à história, em
que a burguesia belga, neste caso Herman Van Rompuy, faz, como sempre fez, a
ponte entre vizinhos. O resto é periferia. Só que a periferia pode, como agora
acontece com a Grécia, dar origem a ondas de choque. A crise grega põe em causa
o pacto de estabilidade e enfraquece de modo significativo, a moeda única.
“Nunca se escrevera tanta opinião tão pessimista sobre o futuro do
Euro, como nas últimas semanas. As declarações de solidariedade recentes não
chegam para fazer esquecer que a Grécia tem, a curto prazo, que ser capaz de
responder aos enormes encargos financeiros que chegam a vencimento. Conseguirá?
Como também terá de adoptar políticas macroeconómicas com grandes custos
sociais. Haverá suficiente força política em Atenas para que isso aconteça?
Imaginem! Este fragmento é tirado da crónica de VICTOR
ÂNGELO na Visão de 25 DE FEVEREIRO DE 2009 - leram bem: 2009! Impressiona pela
sua actualidade. Parece coisa de “adivinhação”, não só pelos vendavais que
assolam a Zona Euro, mas em especial pela crise grega e a séria ameaça de contaminação
dos membros periféricos. Finaliza assim:
“Neste momento a impressão que fica é a de que o trem europeu saiu da
estação, o Tratado de Lisboa deu o sinal de partida, mas sem que o destino da
viagem seja claro. Nem mesmo os nomes das estações intermédias são conhecidos
do grande público. Os poucos passageiros a bordo parecem gente de um outro
mundo, sem qualquer relação próxima com o cidadão europeu. É uma elite
desligada das massas, a viajar em carruagens de primeira classe, num comboio
chamado incerteza”.